Degustação dos vinhos do Toro em revista

No dia 15/3 participamos da degustação promovida pela Denominação de Origem Toro. O grupo D.O.Toro, localiza-se no norte da Espanha e seus vinhedos, quase todos pré-filoxera com cem anos de pés-francos, encontram-se entre 650 e 735 metros de altitude, banhados pelo Rio Duero.

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Fotos: vinícolas Rejadorada, Ramon Ramos e Frontaura.
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Fotos: Paulo Kunzler (direita), L.Martins da PontoVinho (2o. esquerda), e Bodega Piedra.
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Fotos: Beatriz (Liberalia); Carolina Inaraja (Monte La Reina) e Eleonora.

Os vinhos que tivemos a honra de provar saíram de 13 vinícolas, dentre as cinquenta integrantes da região do Toro. A excelência de sua produção advém da uva autóctone Tinta de Toro (uma variação da Tempranillo). Além desta, a Garnacha completa o dueto de cepas aos tintos. As uvas brancas permitidas são: Verdejo e Malvasia. Dos quase 60 vinhos da amostra, conduzida pelo jornalista de vinho Marcelo Copello, apresentamos nossas notas de prova de 28 (vinte e oito) deles, expostos no painel que foi apreciado por mais de 80 convidados no restaurante Bela Sintra, em Brasília. Vamos a eles:

Vinícola Rejadorada – Produz um total de 150 mil grfs. Apresentou vinhos frutados logo de início. Seu Rejadorada Joven 2010 é cativante e de ótimo sabor, sem passagem em madeira (Nota: 87 pts). Na evolução da marca traz vinhos muito elegantes. O Novellum 2008 passa doze meses em barricas e tem aromas cereja e couro (Nota: 88 pts). No topo um grande vinho: Bravo 2009 é a excelência em aromas e sabor; elegância sem fim. Taninos ainda pouco domados, mostra força de longevidade. Decididamente um dos melhores vinhos da noite (Nota: 92 pts).

Bodega Ramon Ramos – Produz mais de 250 mil grfs. Seu Monto Toro Joven 2010 agrada logo de cara. Também no estilo não barricado, mantém a fruta viva na boca (Nota: 86 pts). O Monto Toro Selección 2009 é ótimo exemplar da bodega, com notas delicadas de tostado e minérios. Com seis meses em barricas lhe dão um veludo e estrutura elegantes (Nota: 87 pts). Os Tardencubas são produzidos no estilo novo mundo e são vinho mais encorpados e potentes, mas com muita harmonia. O Tardencuba Crianza 2007 com um ano de madeira segue esta linha (Nota: 89 pts). Na ponta está o Tardencuba Autor 2008, com 15 meses barricado e uma estrutura invejável. Delicioso e longa persistência (Nota: 91 pts).

Bodegas Frontaura – Cerca de 300 mil grfs/ano. Esta bodega me impressionou bastante pela sua precisão vitivinícola. Um exemplo a ser seguido por muitas outras pelo mundo. Provei os cinco vinhos, num crescente evolutivo sem precedentes na minha vida de enófilo [risos]. Do mais simples, o Vega Murillo 2010 não barricado (Nota: 85+pts), ao maravilhoso Frontaura Reserva 2005, com 18 meses de madeira (Nota: 91 pts), os rótulos apresentavam-se numa sequência de qualidade incrivelmente consistente. No meio vinham ainda o Vega Murillo 2010 com três meses de barricas francesas/americanas (Nota: 86 pts); o Dominio de Valdelacasa 2007 (Nota 88 pts), que passa seis meses na madeira; e o Frontaura Crianza 2005, um vinho pronto com taninos plenos e harmonia pelos 15 meses de estágio na madeira (Nota: 90 pts). Seu gerente Diego deve se orgulhar disso. A melhor bodega do evento!

Bodega Valbusenda – Pequena produção de cerca 100 mil grfs. O vinho provado foi Valbusenda Reserva 2004, que tinha 18 meses de estágio em madeira, notas de resina e ameixas e banana. Na boca, leve toque de mel e taninos tenros (Nota: 90 pts).

Bodega Elias Mora – produção de cerca 200mil grfs. Chamou atenção pelo vinho de sobremesa tinto Dulce Benavides. Com tiragem de só 3.000 botejas, um sabor suave e nada enjoativo. Para beber até acabar – a garrafa, lógico [risos]. O Elias Mora Crianza 2008 é obrigatório em qualquer adega – e na minha terá lugar de destaque, certamente! (Nota: 90 pts).

Bodega Cyan – minúscula produção de 50mil grfs, esta bodega de autor produziu talvez o melhor vinho do evento e uma das melhores ampolas do Toro, o aclamado Cyan Pago de La Calera 2001. Diferentemente dos demais da região, este exemplar é puro Tempranillo, não Tinta de Toro. Notas frutas pretas, menta e especiarias. Encorpado e carnudo; dá vontade de mordê-lo. Forte personalidade (Nota: 92 pts).

Estancia Piedra – com 180mil grfs, uma vinícola top; só produz grandes vinhos! É o que confirmam nossas avaliações: Piedra Roja 2006 (Nota: 90 pts); La Garona 2004, 18 meses em madeira em total harmonia e excepcional estrutura (Nota: 91 pts); e o fantástico Piedra Selección 2004, também barricado por 18 meses. Elegantíssimo e equilibrado. Aromas cassis e tabaco (Nota: 93 pts).

Monte La Reina Bodegas – outra vinícola artesanal, com só alguns milhares de vinhos incríveis. Na opinião de muitos o melhor branco, o Castillo Verdejo Fermentado 2008. Um branco leve apesar dos oito meses barricado, que não lhe tirou a força e o prazer (Nota: 90 pts). Castillo de Monte la Reina 2009, com 6 meses de carvalho e notas frutais e banana (Nota: 86pts). Castillo Vendimia Seleccionada 2005 vem de uma produção de só mil grfs. de altíssima qualidade e longo final de boca (Nota: 91 pts). Por fim, temos o Inaraja 2005, um vinho especial, exclusivo, de apenas 250 botejas disputadas, mas com um preço extremo…talvez o mais caro do evento: 60 Euros! (Nota: 90 pts). O nome é em homenagem à própria dona da bodega, a bela e simpática Carolina Inaraja.

Liberalia Enologia – produção 150mil grfs/ano. Outra pequena bodega com vinhos diferenciados. Depois da Frontaura, também trabalha com uma produção verticalizada de alta qualidade, onde a evolução de um rótulo para outro é sentida claramente na degustação. A proprietária Beatriz Pujo (foto acima) diz tratar-se de produção artesanal e que seus parreirais beiram os cem anos de idade em pés-francos. Em meu conceito produzem o vinho mais complexo na elaboração do evento, o Liber 2004. Ele passa 24 meses em barricas e mais 3 anos repousando na adega antes da distribuição (Nota 91 pts). O Liberalia Tres 2010 tem 12 meses de madeira (Nota 88 pts) e o Liberalia Cinco 2005 fica 18 meses nas barricas (Nota 90 pts). Por fim temos ainda o Liberalia Cuatro 2007, aromático e complexo, com uma relação preço/qualidade excelente (Nota 90 pts). Ele fica 12 meses em estágio e mais 18 meses de afinamento na garrafa.

Outras vinícolas da amostra:
Bodegas Covitoro, com quase um milhão de botejas/ano.
Vinícola Pagos del Rey, com o maravilhoso e delicioso Bajoz Crianza 2008 (Nota: 90 pts).
Bodegas Fariña
– produção de 300 mil grfs.
Carmen Rodriguez Bodega – Minimalista na produção não chegando a 30mil grfs artesanalmente elaboradas. Grande produtora dos vinhos Caro Dorum, que alcança excelentes conceitos de críticos internacionais.

Curiosidade: interessante notar a percepção de aromas de banana em três ou quatro vinhos da amostra. Sensações estas também existentes na uva Gamay brasileira. Será uma característica da Tinta de Toro na Espanha?!  😉