Montchenot 15 años Cosecha 1992

montchenotfDesde julho do ano passado fiquei de comentar alguns vinhos raros que trouxe de Buenos Aires. Este é o primeiro do lote trazido à época. Sobre a gastronomia portenha já comentei em postagem anterior (ver o link).

Confesso que aguardava ancioso a prova deste incrível vinho argentino: o Montchenot 15 años Safra 1992, da Bodega Lopez. Queria fazer parte da controvérsia que envolve o rótulo, por ser este o maior vinho de guarda da Argentina. Ele é feito a partir de parreiras velhas com mais de 60 anos de idade, em Mendoza. A primeira safra foi produzida em 1960 e desde então quase ininterruptamente até a recente de 1999. Sempre com mesmo corte de cabernet sauvignon (predomínio), merlot e malbec. Após a colheita o vinho é maturado em grandes toneis de carvalho francês de 5.000 lts por 10 anos. Depois permanecendo por mais 5 anos nas garrafas. No caso do Reserva 20 años, ele fica 10 anos engarrafado.

Seguindo a recomendação do próprio produtor, antes de beber deixei aerando por duas horas. No aroma surgiu um leve couro e notas defumadas. Ainda de aromas plenos e abertos, o que é incrível para um vinho de tantos anos. Na boca, álcool quase impercetível e a perfeita acidez harmonizada com taninos polidos e finos. Longa persistência no fim de boca. Bebendo às cegas muitos dirão tratar-se de um bordeaux francês, tão idêntico é o sabor. Interessante notar que já está pronto para consumo (passados estes 19 anos), não necessitando de mais guarda. Mostrava ótima estrutura num médio corpo. De cor rubi e algum tijolo. Enorme elegância e personalidade. Nota 92 pts. Pena esta botelha não ser vendida no Brasil; para conseguí-la só indo a Argentina.

Enfim, a controvérsia sobre a qualidade deste belo vinho, para mim se desfez em alegria e contentamento, e talvez exista por preconceito daqueles que enxergam só o rótulo ao invés do conteúdo da garrafa. Esta, portanto, é uma das ampolas de surpreender e que deve ser exaltada, devido o carinho e trabalho artesanal na sua produção. Meus parabéns aos enólogos da Bodega Lopez por seguir este difícil caminho para conseguir um vinho desta magnitude e complexidade, neste mundo vinícola de vinhos rápidos e comerciais! Aí está um exemplo que não podemos esquecer: guardar um vinho por 15-20 anos sem cobrar um preço exorbitante é algo raro nos dias atuais. O grande mestre Patricio Tapia, do Guia Descorchados (Chile), lamenta o fato de que a elegância deste vinho seja esquecida dos apressados consumidores de “bombas”, mas enquanto existir o DCV nada disso estará perdido. Aqui conto um segredinho a vocês: ainda tenho outra garrafa estocada…o seguro morreu de velho e trouxe duas na bagagem.   :))