Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais – Parte 2

Como havia anunciado, na segunda parte da postagem sobre o 10 Encontro Franco Brasileiro de Vinhos Naturais, me aterei aos produtores Franceses que aqui estiveram.

Foram eles: Emmanuel Houillon e Pierre Overnoy- Domaine Houillon-Overnoy (Jura)

Jean e Agnés Foillard- Domaine Jean Foillard (Beaujolais)

Eric e Marie Pfifferling- Domaine L´Anglore (Rhone)

Pierre e Catherine Breton- Domaine Breton (Loire)

Sebastien Bobinet e Emeline Calvez- Domaine Sebastien Bobinet (Loire)

Patrick Meyer e Mireille Meyer- Domaine Julian Meyer (Alsácia)

Marcel Richaud- Domaine Richaud (Rhone)

Não há como não começar por ele: Pierre Overnoy. Considerado o mestre do vinho natural, aos 78 anos só deixa o Jura para ir a Paris duas vezes ao ano. NUNCA pisou em outro país que não fosse a França. Essa foi a primeira vez que monsieur Overnoy tirou um passaporte para deixar seu país. Muitos perguntavam por que o Brasil em sua primeira saída??? A resposta era direta e certeira como seus vinhos: porque me convidaram! Logicamente estava sendo educado e sucinto. Convites para ir a outros países não devem faltar desde sempre. Junto a ele veio Emmanuel Houillon, seu filho adotivo, que é quem realmente faz os vinhos hoje em dia sob os ensinamentos de Pierre, que se satisfaz em fazer seu pão caseiro e beber o vinho. O frisson era intenso em seu estande, parecia que todos ali sabiam que algo especial estava acontecendo dentro daquele espaço, e realmente estava. Vale registrar que vi Pierre atender a todos e sacar as rolhas de suas garrafas, mesmo havendo quem se oferecesse a fazê-lo, das 13 às 20 horas.

Ele trouxe 04 vinhos, 03 brancos e 01 tinto. Chardonnay Arbois Pupillin 2010. Parecia Borgonha já amansado, sem aquela gordura oleosa que costuma marcar os exemplares de safras recentes da região vizinha. Savagnin Ouillé 2011 (Ouillé significa completar a parte do tonel que evapora para evitar a oxidação)- mesmo assim não impede que o vinho ganhe toques oxidativos que aportam complexidade. Savagnin Ouillé 2004 (500ml)– Esse vem de parcelas mais nobres de savagnin e mesmo sendo ouillé tem bem mais toques oxidativos que o anterior. Às cegas é impossível não dizer que é um Jaune. Um monstro interminável. Ploussard Arbois Pupillin 2012– coisa seríssima, vi muita gente achando que era rosé, não tiro a razão, na cor parece mesmo. Delicado, sutil, fino, requintado. Melancia, tomilho, framboesa, sem final doce e corpo leve. Tudo que procuro em um vinho estava lá. Sem dúvida é minha primeira escolha em se tratando de tintos.

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Domaine Julien Meyer (Alsácia)– Depois do Overnoy foi o produtor que mais me agradou. O seuMuenchberg Grand Cru Riesling 2012 foi o destaque entre os brancos. Feito sob flor, ao estilo Jura, tem cor amarelo dourado com um nariz fino de raspas de limão, é um vinho intoxicante para mente e não deve ser bebido muito resfriado para se apreciar a complexidade. Perguntei ao Patrick Meyer por que os tintos de pinot noir da Alsácia não são tão exaltados quanto os brancos pelos próprios produtores. Ele disse que o que a Alsácia faz de melhor e diferenciado são os brancos e por isso os tintos são como um souvenir. Ele trouxe o Les Pierres Chaudes Pinot Noir 2013. Lembra Borgonha, na cor, acidez, amargor e terrosidade. Tudo na medida, e por menos da metade do preço de um bom pinot borgonhês.

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Domaine Jean Foillard (Beaujolais)– O Jean Foillard é um dos pioneiros do vinho natural no início dos anos 80. Chegou ao Brasil uma semana antes do encontro e só foi embora uma semana depois. Foi o que mais aproveitou o país, ficando três semanas no total. Trouxe a esposa e o filho e virou “carrioca”. Já conhecia seus vinhos, sou fã e nunca é demais prová-los novamente. Beaujolais Cru de altíssima qualidade. Ele trouxe 03 Morgons e 01 Fleurie. Morgon Côte du Py 2013– Esse vinho ainda está muito novo, cheio de estrutura, longevo, bem diferente dos Beaujolais que difamaram a região. Precisa envelhecer para mostrar o potencial que lhe cabe. No momento está bem fechado. Morgon Cuvée 3.14 2010– vinhas de 100 anos, mais velho, mas precisando envelhecer ainda mais. Seus taninos ainda estão nervosos, porém perecebe-se a qualidade da fruta e o frescor. Morgon Cuvée Corcelette 2012– meu preferido dos Morgons Foillard com um caráter floral bastante comum nos Fleurie. E por último o Fleurie 2010– o vinho mais aberto dos quatro. Nesse vinho Foillard é negociante, ele compra as uvas e isso mostra que com critério dá para se fazer um grande vinho sem ter vinhedo.

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Domaine Sebastien Bobinet (Loire)– Eles só trouxeram dois vinhos tintos. Saumur-Champigny Ruben 2012– cabernet franc de vinhas de 25 a 40 anos com aromas de mertiolate e encorpado. Saumur-Champigny Amatéüs Bobi 2012– Isso aqui está lindo, com a boca já encantadora e aromas de mocha. Abaixo o casal Sebastien Bobinet e Emeline Calvez segurando o Ruben 12.

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Domaine L´Anglore (Rhone)– Os vinhos desse produtor- Eric Pfifferling– já estiveram no Brasil via World Wine e sempre fui fã do Comeyre que eles não trouxeram. Vieram com um Lirac 2013, em sua primeira safra, que não me encantou. Dois Tavel, um barricado (2012) e outro não (2013), que foi o meu preferido, e ainda um rosé Chemin de La Brune 2013 delicioso.

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Domaine Breton (Loire)– Os vinhos do casal Catherine & Pierre Breton também eram importados pela World Wine e trouxeram ao Brasil quatro Bourgueils: Trinch 2013, Nuits d’Ivresse 2013 (esse vinho causou polêmica na França, pois o nome significa “Noites de Bebedeira” o que gerou uma certa censura, por se tratar de um “incentivo a bebedeira”), Clos Sénéchal 2011 e Les Perrières 2010. Os vinhos ainda estão duros e tânicos, mas como já tive a oportunidade de conhecer 03 dos quatro presentes em safras mais antigas, sei da virtude e potencial desse produtor.  Porém quem estava tendo contato com os vinhos pela primeira vez pode não ter sido convencido.

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Domine Richaud (Rhone)– Eu nunca havia provado os vinhos desse produtor e confesso que foram os que menos me agradaram no encontro. Achei os vinhos quentes, alcoólicos, doces, de baixa acidez. Não ter me agradado, não significa que não sejam bons. Há bastante público para esse estilo aqui no Brasil. Como eu nunca havia provado, pode ser que com a guarda eles mudem. Se eu já não conhecesse os vinhos do Domine Breton também os colocaria como os menos interessantes da feira, para mim. Marcel Richaud trouxe um branco Cair Anne Cotes Du Rossi Vil Lages 2013 e três tintos: Cair Anne Cotes Du Rossi Vil Lages 2013, Cair Anne Cotes Du Rossi Vil Lages L’Ebrescade 2012 e Cairanne Côtes du Rhône Terre de Gallets 2013.

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Finalizo agradecendo os organizadores que tiveram o espírito de abnegação para realizar esse evento , que no ano de 2016 deve ter sua edição realizada em Paris e se tudo correr bem retorna ao Brasil apenas em 2017. Portanto, quem viver verá e quem perdeu só resta se lamentar.

Fotos: Próprias e “emprestadas” de Luiz Cola, Magno Gonzales e Ed Motta.